quarta-feira, 2 de junho de 2010

Superdosagem de Woody Allen

Woody Allen infelizmente declina, infelizmente porque em minha opinião ele é um dos diretores mais geniais de seu tempo, e esta entre meus preferidos, o fato é que a repetição de fórmulas já programada usadas por ele em seus filmes, o supera na criação e sufoca sua criatividade, deixando inativo seu status de gênio.


Com Match Point, um filme que retoma a direção imponente e super técnica de Allen, o realiza de forma brilhante, desde a escolha de atores como Jonathan Rhys Meyers ,muito bom ator, e a sua posterior musa Scarlett Johansson que desfruta atualmente de todo o prestígio de Allen, realizando seus subseqüentes filmes, de maneira muito satisfatória, diga-se de passagem, em Match Point temos a mudança de ares para Londres e um ritmo de suspense pouco presenciado nas películas anteriores de Allen, mostra-se mais sério e separa os elementos da tragédia e comédia muito bem, a dupla faceta que viria nos filmes seguintes e Match Point mesmo com brilhantismo está longe de ter um roteiro original, quem Viu Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors) de 1989 realizado pelo mesmo diretor já imaginava o desfecho do filme muito bem, e a odisséia inerte de Allen tinha início.


Em Scoop temos novamente a dupla faceta e o clima ambiente pré-determinado de sucessos anteriores, de forma caricata os personagens são demonstrados e ficam vagando por essa forma, vagando não seria o termo correto, pois o que Allen não desperdiça ou ofusca ele ainda usa na construção do filme, diálogos bem montados e a volta de seu personagem clichê, sempre atual e divertidíssimo, o do intelectual frustrado com o humor negro usual, só que agora na forma de um mágico, Allen precisaria mesmo de mágica para fazer de Scoop um filme excelente, transformado apenas em uma boa película que naufraga no seu próprio roteiro e na disfunção de alguns elementos do cinema de Allen com experimentos mal sucedidos, Scoop é crítico e emblemático em certas horas, a idéia do barco e da comunicação com os mortos e sua estadia no barco rumo ao paraíso é sem dúvida hilária, porem falta algo.


Em O Sonho de Cassandra (Cassandra’s Dream) me deparo com algo que até então só ia presenciar em um filme posterior, uma atuação excelente de Colin Farrel, fato constatado após o filme Na Mira do Chefe (In Bruges) novamente a mesma formula, morte e suspense, duas faces de uma mesma situação, a morte necessária, sempre encoberta por algo ou alguma coisa que a torna emblemática e difícil para os personagens no decorrer do filme, a pretensão de Allen o salva mais uma vez por diálogos teatrais, como o filme é baseado em uma peça de teatro os diálogos ficaram bem adaptados e fieis a proposta, personagens complexos como só Allen apresenta deixa clara a sua excelência, mas sua genialidade é novamente ofuscada, dentro de uma película teatral constatamos novamente a repetição.


Tudo isso para chegar no Vicky Cristina em Barcelona, filme belíssimo com certeza, a linda Barcelona e Oviedo serve de pano de fundo para um elenco irretocável mesclar-se a cidade e trazer a tona os desejos dos personagens contrastando a pureza artística da cidade com a impureza de atitudes humanas, nesse ponto Allen explora de maneira muito bem sucedida a ambigüidade e a curiosidade do ser humano, com mulheres belíssimas Scarlett Johansson, Rebecca Hall e a divertidíssima e louca Maria Elena personagem de Penélope Cruz , todas se envolvendo em um quarteto amoroso com Juan Antonio Gonzalo personagem de Javier barden que de artista, louco e galã de tudo tem um pouco, pincelam essa película que mais faz mostrar Barcelona do que outra coisa, devido a subsídios generosos da cidade, era de se esperar, talvez Allen tenha se encantado demais com a beleza do lugar, quem não se encantaria. O filme embalado por um ritmo envolvente de musica espanhola tradicional, como a excelente banda Giulia Y Los Tellarini dá um ritimo divertido a película e empatia com o ambiente. O filme deixa a desejar até em recursos técnicos, temos como exemplo a narração que em muitos momentos do filme aparece de forma preguiçosa, como uma costura de um roteiro fraco, sem dúvida longe das expectativas que um filme de Allen representa, dando até certa nostalgia da velha Manhattan dos filmes de Allen e de seu personagem de sempre, neurótico, intelectual, frustrado, cético, todos os atributos que fazem de Allen mais do que um excelente diretor, um excelente ator. Um filme que divide opiniões, pura nostalgia do velho Woody Allen ou a inovação repetitiva do diretor que agrada aos padrões atuais? A única certeza é a diferença estética e conceitual no contraste das fases de um gênio do cinema.


Certamente a carreira de Allen declina, não por filmes ruins, longe disso, mas com filmes que caem no limbo dos bons filmes e sua genialidade esconde-se e cede lugar apenas a um diretor de filmes acima da média, seria teimosia ou pretensão? Provavelmente teimosia, Allen é uma figura muito teimosa, que no atual momento contenta-se com seus passeios pela Europa subsidiados em suas produções, claramente produzir um filme por ano é trabalhoso demais e sufoca o espírito criador e inventor, nas suas formulas prontas degustamos um Allen que já vimos, mas acabamos por nos frustrar devido ao fato de atualmente exigir um pouco mais.


Woody Allen infelizmente declina, infelizmente porque em minha opinião ele é um dos diretores mais geniais de seu tempo, e esta entre meus preferidos, o fato é que a repetição de fórmulas já programada usadas por ele em seus filmes, o supera na criação e sufoca sua criatividade, deixando inativo seu status de gênio.

Posted by Neylan Porto @ 05:21

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